O tempo é medido pelas memórias. Sem
memórias, a sensação de tempo inexiste e, por conseguinte, o próprio tempo.
Assim, uma pessoa que se lembra de absolutamente tudo envelhece mais rápido que
alguém com uma memória randômica ou seletiva, ao passo em que alguém cujas
memórias tenham sido afetadas por algum tipo de amnésia é mais jovem que
qualquer um dos outros dois.
Uma pessoa que adquiriu o
esquecimento dos últimos, digamos, 15 anos de sua vida, sentir-se-á 15 anos
mais jovem, o que faz da amnésia um privilégio. Se todos os registros
históricos fossem apagados, incluindo a memória das pessoas, o passado deixaria
de existir e a humanidade seria mais humana. O passado mora na cabeça do ser
humano e no que é produzido a partir dele. Enquanto isso, o futuro sequer
chegou e talvez nem chegue. O futuro é fé.
Vivemos mais quanto menos lembramos
porque não prendemos o tempo a nós, o que faz com que ele passe mais rápido
pelos mesmos corpos. Ao mesmo tempo vivemos efetivamente menos, porque a
sensação de que o tempo passou e nós o aproveitamos ao máximo é menor. Todos os
seres humanos, juntos, possuem a capacidade de controlar o tempo. Podemos pará-lo,
assim morrendo congelados, ou fazê-lo mover-se tão depressa que tudo morreria
instantaneamente. De certa forma, o caos humano mantém o equilíbrio temporal.
Durante o sono entramos em um estado
de esquecimento quase total, por isso acordamos renovados. Quando envelhecemos,
o próprio corpo tenta prolongar o tempo de vida encurtando a memória. Por fim,
a amnésia completa é a morte, o que nos leva a crer que existe uma vida eterna
após a morte e paramos diante do paradoxo de que a única forma de viver pra
sempre é morrendo.
- Absolutamente nada literário.
- Absolutamente nada literário.