segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Teoria do tempo I


            O tempo é medido pelas memórias. Sem memórias, a sensação de tempo inexiste e, por conseguinte, o próprio tempo. Assim, uma pessoa que se lembra de absolutamente tudo envelhece mais rápido que alguém com uma memória randômica ou seletiva, ao passo em que alguém cujas memórias tenham sido afetadas por algum tipo de amnésia é mais jovem que qualquer um dos outros dois.
            Uma pessoa que adquiriu o esquecimento dos últimos, digamos, 15 anos de sua vida, sentir-se-á 15 anos mais jovem, o que faz da amnésia um privilégio. Se todos os registros históricos fossem apagados, incluindo a memória das pessoas, o passado deixaria de existir e a humanidade seria mais humana. O passado mora na cabeça do ser humano e no que é produzido a partir dele. Enquanto isso, o futuro sequer chegou e talvez nem chegue. O futuro é fé.
            Vivemos mais quanto menos lembramos porque não prendemos o tempo a nós, o que faz com que ele passe mais rápido pelos mesmos corpos. Ao mesmo tempo vivemos efetivamente menos, porque a sensação de que o tempo passou e nós o aproveitamos ao máximo é menor. Todos os seres humanos, juntos, possuem a capacidade de controlar o tempo. Podemos pará-lo, assim morrendo congelados, ou fazê-lo mover-se tão depressa que tudo morreria instantaneamente. De certa forma, o caos humano mantém o equilíbrio temporal.
            Durante o sono entramos em um estado de esquecimento quase total, por isso acordamos renovados. Quando envelhecemos, o próprio corpo tenta prolongar o tempo de vida encurtando a memória. Por fim, a amnésia completa é a morte, o que nos leva a crer que existe uma vida eterna após a morte e paramos diante do paradoxo de que a única forma de viver pra sempre é morrendo.


- Absolutamente nada literário.